Quando falamos em inovação, dificilmente a primeira coisa em que pensamos é um grande órgão governamental. Mas as boas medidas que vêm sendo adotadas no sistema público de transporte de Londres mostram que inovação e administração pública são duas coisas que podem – e devem – andar juntas. Na capital inglesa quem responde pelas linhas de ônibus, metrô e trens é a TfL (Transport for London), que já conta com uma longa experiência em coleta e análise de dados – há registros regulares sobre o sistema desde 1971. Porém, o volume de informações que o órgão tem em mãos cresceu significativamente com a introdução, em 2003, do Oyster Card. Trata-se de um cartão recarregável que dá acesso a todo o sistema público de transporte, parecido com o bilhete único adotado em São Paulo. Usuários que se registram no site do serviço podem planejar recarga automática, proteger seu cartão contra perda ou roubo, e receber e-mails com seu histórico de trajetos e ressarcimento financeiro sempre que houver atrasos ou interrupções.
Em 2005, o órgão firmou uma parceria com o MIT (Massachusetts Institute of Technology) para interpretar os dados provenientes do Oyster Card e transformar essa análise em ações eficazes para a melhoria do serviço. Além disso, em 2007 o órgão abriu seu enorme banco de dados ao público. Assim, a sociedade não só ajuda a detectar problemas como também a fornecer soluções – uma medida que deveria servir de exemplo a muitos governantes brasileiros. Confira como a tecnologia tem ajudado Londres a enfrentar um dos principais problemas das grandes cidades: a mobilidade urbana.
Mesmo com o advento do Oyster Card, havia muitas lacunas sobre o comportamento dos usuários dentro do sistema. Afinal, boa parte das viagens em Londres é multimodal (inclui mais de um meio de transporte). E, enquanto o metrô registra tanto a estação em que o passageiro entrou como daquela que ele saiu, o ônibus exige a apresentação do cartão apenas para o embarque, o que torna mais difícil visualizar seu trajeto completo.
Para preencher esse quadro, o TfL precisou comparar os dados do sistema de ônibus com o de metrô. Assim, se um passageiro apresentava seu Oyster Card na catraca de um ônibus e, meia hora depois, o mostrava de novo para entrar no metrô, era possível concluir que a pessoa tinha descido do ônibus próximo à estação. Com esse tipo de informação, o órgão consegue visualizar a quantidade de passageiros em uma linha de ônibus em determinado horário e ajustar a oferta à demanda. Também pode planejar melhor o itinerário do ônibus, reduzindo o tempo de caminhada entre o ponto de ônibus e a estação de metrô, por exemplo. Quando há alguma interrupção numa linha de ônibus, trem ou metrô, o órgão consegue atender os passageiros afetados com esquemas alternativos que já levam em conta para onde a maioria daquelas pessoas deseja ir, evitando que elas se atrasem ou paguem por duas passagens em vez de uma.
Outra área prioritária para o órgão é a comunicação com o passageiro. A TfL oferece um serviço gratuito de alertas, desenvolvido em parceria com a BBC. Basta se registrar no site para o usuário receber por e-mail e/ou SMS informações, em tempo real, sobre os itinerários que costuma utilizar. Isso significa que, se uma rota de ônibus precisa ser desviada por causa de um acidente, por exemplo, o usuário esperando no ponto será informado sobre o problema e soluções alternativas. Por uma questão de custos, o serviço de SMS é limitado a dois por dias.
Há quase dez anos, a TfL percebeu que a melhor forma de utilizar seu banco de dados seria tornando-o o mais acessível possível. E sua estratégia de “open data”, adotada em 2007, ajudou a estabelecer um ecossistema de startups com foco em produtos digitais para o sistema de transporte. Mais de 5.000 desenvolvedores estão inscritos no site da TfL, e há mais de 300 aplicativos disponíveis que utilizam os dados provenientes do sistema. O banco de dados também fornece um material valioso para grupos de pesquisa dedicados a encontrar soluções de mobilidade para o futuro.
A ideia por trás disso tudo é que, quanto mais recursos forem oferecidos a quem defende a causa da mobilidade, melhor será o serviço oferecido para a comunidade. E é isso que importa.
Recentemente, a TfL lançou um novo plano de transparência. A medida é uma resposta a uma consulta pública realizada no início deste ano, em que o órgão perguntou a usuários e parceiros como aperfeiçoar o acesso à informação, recebendo em troca 98 sugestões de melhoria. Estão previstas ações para facilitar a busca e interpretação de dados no site, assim como soluções para lacunas que ainda existem sobre a movimentação dos usuários.
fonte:http://revistagalileu.globo.com/Caminhos-para-o-futuro/Transportes/noticia/2015/11/londres-usa-informacoes-de-seu-bilhete-unico-para-melhorar-mobilidade.html
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