Ainda que, observando a situação com um pouco de perspectiva, guerras pareçam fazer pouco ou nenhum sentido, elas também são parte da condição humana. Temos registros de guerras antes mesmo do surgimento da escrita, e há até mesmo evidências de que alguns animais, como os chimpanzés e formigas, também guerreiam. Mas por que fazemos isso? Aqui estão dez das mais importantes teorias.
1. A hipótese do guerreiro masculino
Formulada por um grupo de psicólogos evolucionistas, esta hipótese sugere que os homens evoluíram em seres violentos e bélicos a fim de garantir o acesso a mulheres e outros recursos. Essencialmente, formar coalizões violentas com outros homens era uma estratégia de acasalamento. O que fosse mais bem-sucedido na “coligação de guerra” seria o que se daria melhor no quesito “passar seus genes para frente”.
Muitas vezes, essa ideia é reduzida à noção de que os impulsos sexuais dos homens no porque da guerra, o que é apenas metade da história. Na verdade, a ideia é que os homens evoluíram formando bandos de guerra uns com os outros para obter acesso aos recursos. Ter esses recursos teria os tornado mais capazes de apoiar as famílias e comunidades, e, assim, passar adiante uma predisposição genética para a formação de exércitos.
Outra versão dessa ideia é a “hipótese do macho demoníaco”, que sugere que o desejo de ir para a guerra remete ao último ancestral comum entre humanos e macacos. Como o comportamento de chimpanzés mostra indícios de grupos de machos atacando outro, biólogos evolucionários têm sugerido que os humanos herdaram o desejo de fazer a guerra de ancestrais evolutivos distantes que compartilhamos com outros hominídeos.
2. A guerra como predação
A ensaísta Barbara Ehrenreich passou muitos anos pesquisando as origens da guerra e determinou que a hipótese do guerreiro masculino não se encaixava exatamente nos fatos. Em vez disso, ela sugere que a guerra se desenvolveu a partir do antigo medo humano de animais predadores. À medida que os seres humanos foram evoluindo, uma das nossas experiências de formação como uma espécie seria se esconder dos predadores mais hábeis do que o Homo sapiens. Porém, uma vez que conseguimos as ferramentas necessárias para sermos os predadores, comemoramos esta conquista em “ritos de sangue” de sacrifício.
Estes ritos começaram como rituais de caça, porém com o tempo evoluíram para rituais de guerra com os humanos vizinhos. Esta teoria explica por que a guerra não costuma parecer algo “natural” para a maioria dos homens e requer um tipo de transformação ritual, como um ritual religioso para o guerreiro ou a formação básica executada pelo exército. A guerra é um comportamento aprendido e seus rituais são uma defesa contra o medo de predação.
3. O falcão persuasivo
Em todo debate sobre conflitos, há falcões e pombas. Os falcões são aqueles que preferem ações contundentes para resolver tensões. As pombas, por sua vez, defendem a negociação. Falcões geralmente vencem por causa desta propensão inerente que todos nós temos. O vencedor do Prêmio Nobel de Economia Daniel Kahneman e o pesquisador do governo norte-americano Jonathan Renshon cristalizaram essa ideia em um artigo famoso no qual explicavam que, estranhamente, a teoria do falcão persuasivo é resultado do viés otimista da humanidade.
“A pesquisa psicológica mostrou que uma grande maioria das pessoas acredita que sejam mais inteligentes, mais atraentes e mais talentosos do que a média e elas geralmente superestimam seu sucesso futuro”, explicam. “As pessoas também são propensas a uma “ilusão de controle”: elas sempre exageram quando falam sobre a quantidade de controle que têm sobre os resultados que são importantes para eles, mesmo quando os resultados sejam, de fato, aleatórios ou determinados por outras forças”.
Em outras palavras, vamos para a guerra porque acreditamos erroneamente que sempre vamos ganhar, porque somos os melhores. Uma ideia relacionada é a “Teoria Rubicon”, que sugere que quando as pessoas acreditam que estão sob ameaça, atravessam um limiar psicológico onde as novas predisposições assumem o controle. Em vez de proceder racionalmente, tornam-se confiantes demais e se envolvem em comportamentos de maior risco – como começar uma guerra ao invés de buscar alternativas pacíficas.
4. Superpopulação malthusiana
Com base em teorias populacionais de Thomas Malthus, esta ideia sugere simplesmente que a causa da guerra é o resultado inevitável de uma população em expansão com recursos escassos. O economista da Universidade de Stanford (EUA) Ran Ambramitzky explica essa ideia de forma simples em um artigo.
A população humana aumenta a uma taxa geométrica, mais rapidamente do que a oferta de alimentos. “Limitações preventivas” voluntárias tentam manter o crescimento da população em níveis mais baixos, como quando as pessoas tomam decisões racionais sobre o número de crianças que vão ter com base em sua estrutura familiar e renda. Quando estas verificações falham, “limitações categóricas”, incluindo a guerra, a fome e doenças, reduzem a população e a equilibram de acordo com os recursos. Malthus acreditava que, enquanto a humanidade não contasse com limitações preventivas decentes, a limitação categórica da guerra garantiria que a população não superasse a oferta de alimentos.
Esta ideia se sobrepõe um pouco com a teoria do “desequilíbrio ecológico” da guerra, em que “pontos de inflamação de conflitos” são o resultado do estresse ecológico dos seres humanos ao explorar muitos recursos da terra. Quando os recursos se esgotam, os conflitos surgem.
5. Bolha de juventude
Uma teoria popular atualmente, essa ideia sugere que a violência e as guerras são o resultado de uma grande população de homens com a falta de oportunidades de emprego pacíficos. O excesso de jovens é atraído para lutar e ser morto, reduzindo a população.
6. Pensamento de grupo
A teoria do pensamento de grupo explica que durante uma crise, os grupos – não importa o quão inteligentes ou bem informados – irão suprimir opiniões dissidentes por causa da pressão para chegar a um acordo sobre um plano de ação, levando-os a tomar decisões terríveis. Esta é, em certo sentido, uma versão mais politicamente orientada da teoria do guerreiro masculino combinada com a do falcão persuasivo.
A ideia é que, quando ameaçadas, as pessoas naturalmente formar bandos de “nós” contra “eles”, e, em seguida, tomam decisões de risco a fim de manter o seu sentido de identidade de grupo elevado. Os cientistas políticos têm recentemente aplicado tal teoria para a Guerra do Iraque.
7. Modelo de negociação
Talvez, dizem alguns sociólogos, a guerra não seja um desejo profundo ou uma reação emocional que vem de nossa evolução. Talvez seja apenas uma forma de manobra política que desenvolvemos junto com a civilização. Visto por este prisma, a guerra é apenas uma versão extrema de negociação, na qual dois grupos tentam resolver disputas sobre tudo, desde a alocação de recursos até a justiça social.
“Criticamente, o modelo de negociação não vê a guerra como a quebra de diplomacia, mas sim como uma continuação da negociação, já que as negociações ocorrem durante a guerra e ela termina quando um acordo é alcançado”, explica o estudioso Dan Reiter.
Este modelo é útil para as relações internacionais, porque sugere que toda guerra é uma negociação e a resolução está apenas esperando para acontecer.
8. Gestão do terror
A teoria sugere que os seres humanos formam grupos culturais, tais como tribos e nações, porque precisam acreditar em algo que vai viver depois que morrem. Todos tememos a nossa própria mortalidade, mas as nossas culturas nos dão crenças e rituais que nos protegem deste medo. Os problemas surgem quando essas crenças são ameaçadas.
A teoria da gestão do terror sugere que, para muitas pessoas, um ataque à sua nação ou grupo desperta o medo básico da morte. Você pode ver os traços da teoria Rubicon aqui, na qual as ameaças à causa de um grupo de pessoas atravessa um limiar que os torna dispostos a tomar decisões violentas que nunca fariam na vida cotidiana. A teoria da gestão do terror sustenta que cruzar este limiar torna as pessoas dispostas a morrer para preservar sua cultura – porque, afinal, é a sua cultura que pode viver depois delas.
9. O impulso agressivo
A agressão é um instinto de luta que ajuda indivíduos e espécies a sobreviver. Em animais, existem inibições inatas contra matar outros da mesma espécie, tais como a demonstração de gestos submissos. Porém, isso é diferente para os seres humanos: armas e a agressão comum (o “entusiasmo militante”) aumentam não só a nossa capacidade de nos defender, mas também de infligir violência a outros grupos.
A expressão inevitável da agressão humana é a guerra. Essa ideia sugere que a guerra é específica da humanidade, como resultado de nossas ferramentas avançadas e organização social.
10. Guerra é aprendida (e pode ser desaprendida)
Primeiramente proposta pela antropóloga Margaret Mead no início do século XX, esta hipótese sugere que a guerra não é a consequência inevitável de nossa natureza competitiva e agressiva. Pelo contrário, é uma invenção social que pode ser desaprendida. Isso se encaixa com a teoria do “impulso agressivo”, que sugere que os seres humanos podem ser agressivos como os outros animais, mas nossa organização social é o que leva à guerra.
É também uma forte censura à ideia da psicologia evolutiva do homem guerreiro, e com a noção neo-malthusiana de que a guerra é inevitável à medida que a nossa população cresce. Dado que a guerra é uma resposta social para o nosso ambiente e ao outro, faz sentido que a solução para a guerra também seja social. Podemos aprender a paz em vez de aprender a guerra – e isso sem precisar mudar os nossos genomas. [io9, The Dolphin Reader, Foreign Policy]
fonte:http://hypescience.com/porque-guerra-causas/
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