Uma nova e preocupante pesquisa publicada na revista *The Lancet Planetary Health* revelou uma forte correlação entre o aumento da poluição do ar e o crescimento da resistência a antibióticos em escala global. O estudo, um dos mais abrangentes sobre o tema, analisou dados de mais de 116 países ao longo de quase duas décadas e concluiu que a poluição por material particulado fino (PM2.5) é um dos principais fatores que impulsionam a resistência antimicrobiana, uma das maiores ameaças à saúde pública mundial. Os pesquisadores descobriram que a cada aumento de 10% na concentração de PM2.5 no ar, havia um aumento associado de 1,1% na resistência a antibióticos. A ligação foi observada em todas as classes de bactérias e antibióticos analisados. Acredita-se que o material particulado, que pode conter uma vasta gama de bactérias e genes de resistência, atue como um vetor, transportando esses elementos por longas distâncias e permitindo que eles sejam inalados por humanos e animais, facilitando a troca de genes de resistência entre diferentes espécies de bactérias dentro do corpo. O ar poluído, portanto, funciona como um \"caldo de cultura\" e um meio de transporte para a disseminação da resistência. As regiões mais afetadas pela poluição do ar, como o Norte da África, o Oriente Médio e o Sul da Ásia, também apresentaram os maiores aumentos nos níveis de resistência a antibióticos. O estudo estima que, se não houver mudanças nas políticas atuais de controle da poluição, até 2050, a resistência a antibióticos poderá aumentar em 17%, resultando em aproximadamente 840.000 mortes anuais prematuras atribuíveis apenas a esse fator. Os autores do estudo pedem uma ação urgente para controlar a poluição do ar, argumentando que os benefícios iriam muito além da saúde respiratória e cardiovascular. Reduzir a poluição do ar seria também uma estratégia crucial e custo-efetiva para combater a crescente crise da resistência antimicrobiana. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou que, se nada for feito, infecções comuns e pequenas lesões poderão voltar a ser fatais. A descoberta adiciona uma nova e alarmante dimensão à crise da poluição e reforça a necessidade de políticas ambientais mais rigorosas e de uma abordagem de \"Saúde Única\", que reconheça a interconexão entre a saúde humana, a saúde animal e o estado do meio ambiente.
Fonte original: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3g4g59p1zjo
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