
A crise hídrica tornou-se uma realidade recorrente no Brasil, um país que detém cerca de 12% de toda a água doce disponível no planeta. Episódios de reservatórios em níveis críticos, racionamento em grandes metrópoles e secas severas em regiões produtivas acendem um alerta sobre a complexa interação entre mudanças climáticas, desmatamento e, principalmente, a má gestão dos recursos hídricos. Embora a falta de chuvas seja frequentemente apontada como a causa imediata, a crise é, na verdade, o resultado de um conjunto de fatores estruturais. O desmatamento, especialmente na Amazônia, interfere no regime de chuvas de todo o continente através dos chamados \"rios voadores\", massas de umidade que são transportadas pela atmosfera. A perda da cobertura vegetal diminui a evapotranspiração e, consequentemente, o volume de água que chega a outras regiões, como o Sudeste e o Centro-Oeste, onde se concentram grandes centros urbanos e a maior parte da produção agrícola do país. Além disso, o modelo de consumo e a infraestrutura de saneamento contribuem para agravar o problema. O Brasil ainda registra perdas de quase 40% de toda a água tratada em seus sistemas de distribuição, um desperdício que seria suficiente para abastecer milhões de pessoas. O setor agrícola, responsável por mais de 70% do consumo de água no país, muitas vezes utiliza métodos de irrigação ineficientes. A poluição de rios e mananciais por esgoto doméstico e resíduos industriais não tratados também compromete a qualidade da água disponível, tornando seu tratamento mais caro e complexo. As consequências da crise hídrica são vastas e interligadas. Elas afetam o abastecimento humano, a produção de alimentos, a geração de energia hidrelétrica (que ainda é a base da matriz energética brasileira, levando a aumentos na conta de luz com o acionamento de termelétricas mais caras e poluentes) e a atividade industrial. Especialistas apontam que a solução exige uma abordagem integrada, que vai além de medidas emergenciais. É fundamental investir massivamente em saneamento básico para reduzir perdas e tratar o esgoto, promover o reuso da água, incentivar técnicas de irrigação mais eficientes na agricultura e, acima de tudo, combater o desmatamento de forma implacável. A crise hídrica não é apenas uma crise ambiental, mas uma crise de desenvolvimento, que exige planejamento de longo prazo e uma mudança de paradigma na forma como a sociedade brasileira valoriza e gerencia seu recurso mais precioso.
Fonte original: https://www.politize.com.br/crise-hidrica-o-que-e/
Comentários
Postar um comentário